
Cartaz de Pochep
o mais legal desses eventos são os encontros, tanto com pessoas que só conhecia das capas dos gibis, quanto velhos amigues. morei em Curitiba 11 anos, tive bons e maus momentos suficientes lá pra eu me apegar e até hoje um pedação do meu mapa afetivo é a ~cidade modelo~.
poderia ficar aqui delirando sobre amigos, encontros, amores, desintimidades, falta de tempo, dicas de lugares a ir e a não ir, mas prefiro falar um pouco das mesas de debate que participei na Bienal.
nas três que participei de mediador, li um texto de abertura que colo abaixo:
Quadrinhos silenciosos.
(mesa com André Ducci, Alexandre Lourenço, Rafael Sica, Troche e Lucas Varela)
Pensei por um bom tempo que o melhor pra essa mesa seria ficarmos todos calados, em silêncio. Algumas coisas me fizeram mudar de ideia: primeiro, John Cage já mostrou que o silêncio é uma tarefa impossível aqui onde há formas das ondas sonoras se propagarem; segundo porque não é hora de silenciar: foi golpe, sim e esse governo é ilegítimo; terceiro, porque teríamos a mesa mais chata da Bienal, já que todo mundo quer ouvir o que os autores têm a dizer e quarto, e principalmente, porque a ausência de palavras não quer dizer silêncio, basta olhar pra obra desses autores.
Ausência de palavra é silêncio?
Cadernos de viagem.
(mesa com Power Paola, Guilherme Caldas e André Caliman)
Aqui no aeroporto de um país que sofreu um golpe legalista e é regido por um impostor, tomo notas pra começo da mesa que vou mediar na Bienal. Gosto da escrita em trânsito, já consegui bons textos assim. Ter um caderno de notas à mão me parece alimentar a memória que só será memória lá na frente e que agora é experiência, é vida, é a minha vida. Um caderno de viagens é uma vivência pessoal que coloco num código compreensível para que possa ser entendido por outro, mesmo que eu sempre tenha achado que o outro seria só eu mesmo daqui um tempo.
Como tornar meu caderno de viagem relevante para alguém?
Quadrinhos e gênero.
(com Adão Iturusgarai, Laerte, Pochep e Maria Clara Carneiro)
O que aconteceu no Brasil se construiu e foi um golpe. Durante esse crime legalista, foi fácil perceber a diferença de tratamento para Temer e Dilma: ele golpista; ela vadia. Evidencia uma questão de gênero pesando sobre a política.
1) “Todos nascemos nus. O resto é drag”. – Ru Paul
2) “Em frente ao espelho, nus, temos as marcas do sexo, à elas vamos adicionando a
terminação de classe e as tais desinências de gênero (sem contar os sotaques
regionais, as desinências de tempo e de ocasião). E o nosso morfema-corpo
integrará diferentes sintaxes e comporá tantos discursos, que um software
poderoso de criação de personagens virtuais nunca conseguiria dar conta de
prever as infinitas possibilidades de ser gente nesse mundo.” – Maria Clara
Carneiro, quando foi receber um prêmio vestida de Laerte.
3) “O texto é tecido” – Roland Barthes
4) “Um galo sozinho não tece uma manhã” – João Cabral de Mello Neto
Montei esse texto com diferentes outros textos e acho que as falas daqui podemos juntos pensar: o que é gênero?
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Em todos eles me posiciono sobre a situação política do Brasil, que chamo de golpe. Na outra mesa que participei dessa vez debatendo e não mediando, palpitei sobre crítica, responsabilidade de informação e, novamente, política.