[Imagem de David Byers Brown para o Canto XII da Odisseia, com Ulisses amarradão no canto das sereias]
nesse capítulo, Bloom vai parar no bar do Hotel Ormond (o preferido dos músicos de Dublin) para comer e ouve a cantoria do lugar. entre os cantores, Simon Dedalus. as canções reverberam em Bloom que repensa seu caso por carta com Martha e em como vai fechar o anúncio do Shawes.
o capítulo é todo dedicado a música, com diversos trechos de canção e recursos textuais que apelam a musicalidade. isso que o estilo narrativo tem a ver com o paralelo homérico.
esse é o capítulo das sereias, no qual Ulisses pede para ser amarrado ao mastro pra poder ouvir o cântico das sereias, que atraem homens ao mar e a morte. desse paralelo Joyce resolveu fazer um capítulo musicalizado. Há um belo artigo sobre a música na obra de Joyce.
[James Joyce, essa sereiazinha da literatura moderna]
interessante notar que mesmo sendo muito emblemático e bastante conhecido, esse trecho das sereias na Odisseia ocupa alguns poucos versos. as sereias de Dublin são as duas garçonetes e há toda um aproveitamento da ideia de tema e voz literário em relação ao tema e a voz musical.
quanto ao modelo narrativo, é um pequena delícia. fuga per canonem é uma tirada com a técncia musical da fuga e do cânon. até onde pude apurar, não existe na música uma ‘fuga per canonem’.
a fuga, é melhor pedir pra alguém que manje de música te explicar, mas é algo meio como uma voz em um tom que canta um tema e vai se desenvolvendo e em seguida entra uma segunda voz, em outro tom, cantando o mesmo tema e assim segue, como se o tema “fugisse”. parece que o Bach era o cara da fuga.
Já o Cânone são diversas vozes cantando a mesma linha melódica que a primeira voz e retomando o que ela já fez. não sei bem se entendi a diferença, mas me parece que são técnicas excludentes entre si.
no caso do romance de Joyce, entenda voz, não por canto, mas por voz narrativa. e no começo do capítulo ele faz uma pequena apresentação dos temas que serão desenvolvidos no capítulo, coisas que alguns compositores de música erudita também fazem (parece que é o caso do Wagner). ou seja, todo aquele texto desconexo é uma trailer do que vem pela frente, mas ligado ao sentido e desligado da sintaxe.
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